terça-feira, 5 de março de 2013

morte de um lider

Incrédulos, venezuelanos choram morte de Chávez

Atualizado em  5 de março, 2013 - 23:23 (Brasília) 02:23 GMT
 


 

A morte do presidente venezuelano Hugo Chávez causa clima de comoção nas ruas do país, sobretudo em Caracas. Seu falecimento em consequência de um câncer marca o fim de uma era na história política do país. No centro da capital, as pessoas caminham chorando, conversando ao telefone e comentando a notícia, que muitos dizem se esforçar para acreditar.
"Não pode ser. Chávez era a esperança do povo venezuelano. Era o líder, o irmão, o amigo, ele mudou nossa história. Não sei como vai ser agora", disse à BBC Brasil o professor Jonás Alcalá, visivelmente abalado.
Para ele, a "revolução bolivariana" liderada por Chávez durante 14 anos não termina com sua morte. "Ele lutou incansavelmente pelo país e nos deixou o caminho aberto para construir a pátria socialista, agora depende de nós", afirmou.
O comerciante Pedro Contreras, ao telefone, tentava acalmar a filha recém informada da morte do presidente. "Vamos manter a calma filha, a vida continua", dizia, consternado. "Ele era grande demais para ser mortal", comentou Contreras à BBC Brasil.
O governo decretou sete dias de luto nacional e o velório do corpo do presidente começa nesta quarta-feira, no saguão da Academia Militar, onde permanecerá durante três dias.
Na sexta-feira, haverá uma cerimônia oficial com a presença dos chefes de Estado do continente que devem acompanhar o funeral. O local do enterro ainda não foi revelado.

Multidão na Praça Bolívar

Desde que a morte de Chávez foi confirmada, uma multidão começou a lotar a simbólica Praça Bolívar, em Caracas. Tristeza, lágrimas, cantos e palavras de ordem dominam o ambiente. Cada um traz consigo camisetas com a estampa do presidente, bandeiras e cartazes.
"Queremos recordar aqui a memória de nosso comandante. Hoje temos pátria e é graças a ele. Viva Chávez", gritou um manifestante. Em lágrimas, a simpatizante Eva Ruiz dizia sentir como se fosse a morte de um familiar. "Ele era nosso pai, irmão, amigo. É muita dor para todo esse povo que despertou graças a ele", afirmou.
No leste da cidade, reduto da oposição, alguns motoristas, ostentando grandes caminhonetes, tocavam a buzina com ânimo, comemorando a notícia. Diaristas que deixavam seus trabalhos caminhavam apressadas rumo à estação de metrô. "Estou arrasada", disse Maria Hernandez, com lágrimas nos olhos, correndo para por voltar para casa.
O dentista Daniel Pérez também tinha pressa em voltar para casa. "Imaginava que isso já tinha acontecido. Pelo menos agora acabarão os rumores", afirmou Pérez à BBC Brasil. O hermetismo com o qual foi tratada a doença do presidente, até o final, abriu caminho para uma série de rumores que apontavam a gravidade de seu falecimento ainda no mês de dezembro.
Opositor, o dentista afirma não temer cenários de desestabilização, ao reconhecer que Chávez "deixou tudo preparado" para evitar qualquer tentativa de golpe ou desordem social. "Há um governo consolidado há 14 anos e isso temos que reconhecer", afirmou.

Sucessor e militares

Antes de viajar a Cuba para ser operado, Chávez pediu à população para eleger o vice-presidente Nicolás Maduro, caso algo lhe acontecesse.
"Minha opinião firme, plena como a lua cheia, irrevogável, absoluta, total, é que nesse cenário que obrigaria a convocação de eleições presidenciais vocês o elejam como presidente", disse Chávez, antes de ser operado, ao reconhecer pela primeira vez que a gravidade da sua doença poderia ter um desenlace fatal.
Num país em que sempre está presente o fantasma do golpe de Estado, as Forças Armadas emitiram um comunicado, imediatamente após o anúncio da morte do presidente, para reforçar sua lealdade à Constituição.
"Nos unimos à dor do povo venezuelano e chamamos à tranquilidade e ao entendimento entre as partes", afirmou o ministro de Defesa Diego Molero.

Eleições

De acordo com a Constituição, novas eleições devem ser convocadas em 30 dias. Até lá, o vice-presidente Nicolás Maduro continuará à frente da Presidência até a eleição do novo presidente.
O pleito deve colocar à prova o chavismo como movimento político, na ausência de seu ideólogo e líder.
A oposição ainda não se posicionou oficialmente, mas o presidenciável mais cotado para representar o anti-chavismo é o ex-candidato e governador Henrique Capriles, que foi derrotado por Chávez nas urnas em outubro do ano passado.
De acordo com pesquisa realizada pela empresa Hinterlaces, 50% dos venezuelanos votariam em Maduro se as eleições fossem na segunda-feira - contra 36% dos eleitores que optariam pelo governador opositor Henrique Capriles, provável candidato anti-chavista à Presidência.

Cirurgias

O mandatário vinha fazendo viagens regulares a Havana para receber tratamento. Ele foi submetido à quarta cirurgia relacionada ao câncer no dia 11 de dezembro.
Poucas informações foram divulgadas sobre o procedimento, exceto que durou seis horas e o presidente perdeu muito sangue. A operação foi considera "exitosa", mas desde então Chávez não foi mais visto publicamente.
Porém, o quadro de saúde do presidente se agravou, evoluindo para uma insuficiência respiratória.

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