José Dias Nunes, conhecido como Tião Carreiro (São Francisco, 13 de dezembro de 1934 — São Paulo, 15 de outubro de 1993), foi um cantor brasileiro de música sertaneja de raiz e muitas duplas são influenciadas por sua música.
Tião Carreiro. Este é o nome pelo qual ganhou fama José Dias Nunes, que
completaria 70 anos em 13 de dezembro de 2004, não fossem as
complicações provocadas por uma diabetes que silenciou seus ponteados em
15 de outubro de 1993. Desde então, milhões de fãs pelo Brasil afora
aliviam as saudades ouvindo e tocando as centenas de músicas gravadas
por ele em 27 discos 78 rpm (9 com Carreirinho e18 com Pardinho) e 41
LPs, que foram remasterizados em 41 CDs (33 com Pardinho, um com
Carreirinho, quatro com Paraíso, dois discos solo e um com Praiano),
além de 15 compilações em LP lançadas entre uma e outra gravações
originais, compactos simples e duplos.
Tião Carreiro estreou em disco em novembro de 1956 (um bolachão de
78rpm que trazia "Boiadeiro Punho de Aço", no lado A, e "Cavaleiros de
Bom Jesus", no B) ao lado de Pardinho, ex-trabalhador braçal e cantor de
horas vagas que ele conheceu no circo Rapa Rapa, na cidade de Pirajuí
(SP). No início, adotava ainda o nome de Zé Mineiro, passando a seguir
para João Carreiro. O batismo definitivo veio por sugestão de Teddy
Vieira, então diretor da RCA Victor e parceiro de Tião em alguns dos
principais sucessos da dupla. Antes de conhecer Antonio Henrique de
Lima, o Pardinho, Tião já havia cantado usando os nomes de Zezinho,
junto a Lenço Verde, e de Palmeirinha, primeiro com Coqueirinho e depois
com Tietezinho. O novo nome caiu como luva também para a breve
dobradinha formada entre Tião e Carreirinho, que registrou nove 78rpm e
um LP. Violeiro intuitivo, Tião Carreiro jamais freqüentou escola de
música. Foi autodidata também na escrita, ao ponto de criar letras com
cheiro de terra e mato para várias músicas de seu vasto repertório. Não
bastasse isso, também soube se cercar de poetas com "P" maiúsculo, do
porte de Lourival dos Santos, Moacir dos Santos - que, apesar do
sobrenome comum, não tinham nenhum parentesco -, Dino Franco e do
próprio Teddy Vieira.
Mas fosse qual fosse o nome que adotasse, o destino de Tião parecia
mesmo estar traçado nos braços da viola. Sobretudo depois que ele criou o
pagode caipira, definido pelo cantador e produtor mineiro Teo Azevedo
como uma feliz junção do coco nordestino com o calango de roda. Ambas as
levadas, vale lembrar, eram e ainda são bastante praticadas na região
em que Tião e o próprio Teo nasceram, quase na divisa com a Bahia. Há
ainda quem perceba no pagode certo parentesco com a catira, só quem sem o
pandeiro, o reco-reco e os temperos percussivos típicos desta outra
levada violeira. O novo ritmo surgiu em março de 1959, embora seu
primeiro registro em disco tenha se dado no ano seguinte, com "Pagode em
Brasília" (Teddy Vieira e Lourival dos Santos). Para termos de
comparação, o sucesso gravado por Tião Carreiro e Pardinho, em homenagem
à recém-inaugurada Capital federal, está para o pagode de viola assim
como "Chega de Saudade" (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), lançado dois
anos antes por João Gilberto, está para a bossa nova. Em ambos o
diferencial era dado pelas batidas inventadas por músicos virtuosos. No
caso de Tião, também acabou pesando a favor o fato de ele compor e
cantar magistralmente, como deixam ver (e ouvir) clássicos como
"Amargurado" (com Dino Franco), "Rio de Lágrimas" (com Piraci e Lourival
dos Santos), "Cabelo Loiro" (com Zé Bonito) e tantos outros. Não
desmerecendo os demais parceiros de Tião, sua segundona grave soava sob
medida para a primeira voz refinada de Pardinho. E, mesmo com a morte do
violeiro, o pagode continua na ordem do dia para uma legião de
seguidores espalhados pelo Brasil, que tem entre seus principais
expoentes o músico sul-mato-grossense Almir Sater. História Quarto filho
de uma prole de sete crianças, Tião Carreiro não teve na infância os
brinquedos industrializados e caros que eram vistos nas mãos dos filhos
dos coronéis de Monte Azul, na região de Montes Claros, no Vale do
Jequitinhonha (MG), onde nasceu e passou os primeiros anos de vida. Mas
desde cedo chamava a atenção nele a aptidão para inventar seus próprios
brinquedos. Notadamente alguns que já permitiam vislumbrar toda a
musicalidade adormecida em seu íntimo. Esticar o elástico reciclado do
cano de botinas velhas ao longo de pedaços de madeira, e passar horas a
fio tentando decifrar o som que produziam sob seus dedos, era um dos
passatempos do mais célebre filho do casal de lavradores Orcissio Dias
Nunes e Júlia Alves das Neves.
A seca e a falta de perspectivas no Vale do Jequitinhonha fizeram,
porém, com que a família deixasse a região, a bordo de um caminhão
pau-de-arara, quando Tião tinha apenas 10 anos, rumo a São Paulo.
Tiveram de fazer antes uma parada forçada de três dias em Montes Claros,
até que um juiz de menores autorizasse a viagem das crianças, que não
tinham sequer certidões de nascimento. Em Paulópolis e Oriente, as
primeiras escalas em São Paulo, ficaram pouco: devido à morte de seu
Orcissio, mudaram-se logo para Flórida Paulista e depois para
Valparaíso. Foi lá que Tião, aos 16 anos, decidiu trocar o cabo da
enxada pelo braço da viola. Como tinha de ajudar no sustento da família,
intercalava o novo ofício a outras funções, como a de garçom no
restaurante de um hotel da cidade, onde ele costumava encantar a
clientela dedilhando ao violão sambas e músicas populares da época. Após
se apresentar no programa "Assim Canta o Sertão", de uma rádio local,
engatilhou parceria com um amigo chamado Valdomiro, adotando o nome de
Zezinho e Lenço Verde. Outra cidade fundamental para a formação musical e
a vida de Tião foi Araçatuba. Foi lá que ele passou parte da juventude e
conheceu Nair Avanço, durante as festas juninas de 1953, casando-se com
ela 14 meses depois. O sucesso como artista, porém, só viria com força
anos mais tarde ao lado de Pardinho, com quem formou a dupla que ficaria
perpetuada como "Os Reis do Pagode".
Mais detalhes sobre vida, carreira e obra de Tião Carreiro podem ser
acessados no site tiaocarreiro.com.br, criado recentemente a partir do
acervo mantido por Nair e Alex Marli Dias, filha única do casal.
(Texto : Donizete Costa) Ao Mestre
Com o nome de José Dias Nunes foi batizado e como Tião Carreiro ficou consagrado.
Natural de Montes Claros, norte de Minas Gerais, nasceu em 13 de dezembro de 1934.
Filho dos lavradores, seu pai Orcissio Dias Nunes e sua mãe Júlia
Alves da Neves, tiveram 7 filhos, quatro homens, Cumercindo,
Guilhermino, Jóse Dias Nunes e Valdomiro e três mulheres, Ilda, Maria e
Santina.
Neto de Ricardo e Maria por parte do pai e de José Alves e Porcidonia por parte da mãe.
O quarto a nascer de um total de sete filhos: - Cumercindo, Ilda,
Guilhermino, José Dias, Maria, Santina e Valdomiro - exatamente nesta
ordem.
Até os 10 anos de idade morou no norte de Minas Gerais nas regiões de Montes Claros, Monte Azul, Pajeú, Rebentão e Catuti.
Seu irmão, Guilhermino, morreu ainda menino vítima de um sarampo recolhido.
Levando uma vida humilde, conseqüência da falta de emprego gerada
pela seca que assolava aquela região e com a esperança de um futuro
melhor a família de José Dias resolve tentar a vida em São Paulo.
Saíram da região de origem num caminhão tipo pau-de-arara e seguiram
rumo a Montes Claros onde embarcariam no trem com destino ao interior do
Estado de São Paulo. As crianças não possuíam registro de nascimento e
por este motivo a família teve que aguardar 3 dias para obter do juizado
de menores uma autorização para prosseguirem.
Obtida a autorização seguiram viagem até Paulópolis/SP onde permaneceram por pouco tempo pois seu pai veio a falecer.
A avó materna de José Dias, Dona Porcidonia, morava em Flórida Paulista e foi para lá que se mudaram nesta época.
Algum tempo depois foram tocar roça em Valparaíso/SP.
O pai, quando morreu, deixou-lhe a primeira viola. Uma herança que o
garoto saberia como ninguém valorizar. Seus dotes de músico já eram
notados, aos oito anos de idade dedilhava no braço da enxada e com
elástico nos dedos tentava tirar sons musicais.
O menino da viola nunca foi à escola, mas tinha sonho de ler e
escrever. Começou então folheando jornais velhos. E foi dessa forma que
José Dias, juntando as letras, se alfabetizou. Da mesma maneira aprendeu
a tocar, ou seja, sozinho, observando e juntando acordes e notas.
Aos 16 anos tomou a decisão que marcaria sua vida. Já apaixonado pela
música decide deixar o trabalho no campo e se arriscar em outro mundo,
em nova profissão. Que sorte a nossa! O Brasil ganharia um dos músicos
sertanejos mais importantes que revolucionaria e influenciaria gerações.
José Dias trabalhava como garçom no restaurante do Hotel do Manoel
Padeiro, onde, nas horas vagas, cantava músicas populares e sambas da
época. Aos domingos participava do programa “Assim canta o sertão”, da
rádio transmissora de Valparaíso/SP.
Formou dupla com o amigo Valdomiro e se apresentavam no circo Giglio com os nomes de Zezinho e Lenço Verde.
Formou outras duplas com os nomes de Palmeirinha e Coqueirinho, Palmeirinha e Tietêzinho, Zé Mineiro e Tietêzinho.
O proprietário do circo onde ele tocava naquela época comentou que
dupla de violeiros tinha que tocar viola, e ele tocava violão. No mesmo
ano, na cidade de Araçatuba/SP, apresentaram-se - Tonico e Tinoco, a
dupla Coração do Brasil. Tonico deixou a viola no circo e foi para o
hotel descansar, José Dias pegou a viola e decorou a afinação.
Logo em seguida ganhou uma violinha de presente pintada à mão pelo
pintor Romeu de Araçatuba. E a partir daí, inspirando-se num dos
melhores violeiros da época: Florêncio, da dupla Torres e Florêncio foi
seguindo em frente, trilhando seu caminho.
Conheceu Dona Nair Avanço em Araçatuba numa festa junina no ano de 1953, namoraram 14 meses e se casaram.
Tiveram uma única filha, Alex Marli Dias, hoje casada com Gilberto
Rodrigues da Silva e mãe de Renan Rodrigues da Silva, com 10 anos, o
único neto de Tião Carreiro.
José Dias conheceu Pardinho, seu principal companheiro, no circo Rapa
Rapa na cidade de Pirajuí/SP. Pardinho era ajudante braçal e cantava
nas horas de folga. Passaram a cantar juntos com os nomes de Zé Mineiro e
Pardinho, depois de dois anos a convite de Carreirinho mudam-se para
São Paulo. Era Maio de 1956 e sua única filha Alex Marli acabara de
nascer.
Já em São Paulo conhecem Palmeira que os apresenta a Teddy Vieira,
diretor sertanejo da RCA Victor, gravadora de grande projeção na época.
Teddy os leva a gravadora Colúmbia e batiza José Dias de Tião Carreiro.
Ele não simpatizou com o nome de imediato, mas acabou concordando.
Começa então a história de Tião Carreiro.
Gravam o primeiro disco, um 78 rpm, lançado em novembro de 1956. As
músicas eram “Boiadeiro punho de aço”, moda de viola e “Cavaleiros do
Bom Jesus”, um cururu, ambas composições do padrinho Teddy Vieira.
Após o primeiro registro, Tião dá um tempo na parceria com Pardinho e
forma dupla com Carreirinho. Foi uma época de grande produção. Em março
de 1959 nasce um novo ritmo – o pagode-de-viola. Tião percebeu que
naquele recortado mineiro que havia gravado misturado a outras batidas ,
a viola assumia um papel importante, e que havia encontrado algo
realmente novo.
Tião Carreiro e Pardinho, novamente juntos, gravam pela primeira vez
“Pagode em Brasília”, música de Teddy Vieira e Lourival do Santos. Uma
homenagem à nova capital do país. A composição fazia parte de um disco
78 rpm, do selo Sertanejo, lançado com grande sucesso em agosto de 1960.
Tião com sua habilidade e destreza criou inúmeras introduções e
arranjos ao pagode-de-viola, verdadeiras preciosidades. Mas Tião não
parou por aí, desenvolvendo uma inconfundível batida, inovando com um
estilo próprio. Na verdade Tião inventou uma forma original para os
violeiros que cantam em dupla e usam como acompanhamento a viola e o
violão. Na riqueza de ritmos e estilos Tião gravou moda de viola,
cururu, cateretê, valseado, querumana e até tango.
E quando a música sertaneja se tornou mais urbana, ganhando outras
influências, o violeiro se mostrou aberto a novas experiências e gravou
guarânias, rasqueados e balanços. Ele nunca se preocupou com o gênero
musical e sim com o que as pessoas queriam ouvir.
Tião também aprimorou o estilo de cantar em dupla. A segunda voz que é
a mais grave era colocada com mais destaque do que a primeira. Estilo
que depois foi seguido por várias duplas.
O saldo desta carreira de sucesso: 25 discos 78 rpm com Pardinho e
Carreirinho, mais de 50 LPs com variados parceiros, dois LPs em solos de
viola caipira e mais de 300 composições com os mais importantes nomes –
Teddy Vieira, Dino Franco, Moacyr dos Santos, Zé Carreiro, Zé Fortuna,
Carreirinho e Lourival dos Santos, amigo, conselheiro e companheiro mais
constante.
Tião Carreiro foi também um dos grandes responsáveis pela
popularização da música sertaneja, tirando-a dos programas sertanejos
das rádios nas madrugadas e colocando-a nos teatros, rodeios, exposições
e no horário nobre da televisão.
Ainda em vida teve o prazer de possuir a viola vermelha de Florêncio e
o Violão de Torres. A viola foi cedida por Moreninho da dupla Moreno e
Moreninho, e o violão ganhou de um amigo da cidade de São José do Rio
Preto – Marco Aurélio Garcia, o Lelo, no dia 11/04/1992.
Tião Carreiro se foi como os grandes mestres, antes da hora, vítima
de complicações advindas da diabetes que lhe consumiu lentamente, sem
compreender a dimensão e o alcance de seu trabalho. Porém conseguiu o
que todo artista sonha – compôs com os melhores letristas, tocou seu
instrumento como poucos e cantou como ninguém, era um músico completo.
Honrou, sem dúvida a herança recebida de seu pai.
José Dias Nunes, Tião Carreiro, faleceu dia 15/10/1993, e foi
Sepultado no cemitério da Lapa, onde foi construído um memorial em sua
homenagem e que todos os dias de finados , inúmeros fãs se reúnem em
volta do túmulo do artista e passam horas e horas cantando seu
repertório e relembrando alguma passagem de sua carreira.
As particularidades de Tião Carreiro
Tião Carreiro, habilidoso tocador de viola, um dos maiores violeiros
brasileiros, com seu carisma e talento , exercicia uma magia sobre a
pessoas, tendo conquistado um público fiel, que mesmo após dez anos de
sua ausência física, continuam cultuando o ídolo.
Tinha um carinho especial pelos fãs, era atencioso com eles, apesar
de sisudo, possuía uma doçura embaixo da aparência carrancuda.
Soube cultivar grandes amigos e também conserva-los sempre, homem de
aparência séria, as vezes tímido, mas ao mesmo tempo desinibido
enfrentava grandes platéias.
Aonde chegava era rodeado de pessoas, que se encantavam com seu jeito
autêntico de ser, sua humildade, suas histórias cômicas, folclóricas,
exagerando nas coisas propositalmente.
Seu time o Corinthians, sua religião católico não praticante mas
devoto de de N.Sra. Aparecida, e acreditava em benzimentos também.
Adorava se vestir bem, jóias, bons perfumes, bons carros, e assistir corridas de cavalos.
Não bebia como todos diziam, muito pelo contrário , guardava os
whiskes e pingas que ganhava e formou um coleção de bebidas que gostava
de mostrar aos amigos.
O Pagode
Tião Carreiro tocava viola desde jovem, mas era inconformado sempre
procurando novas formas de tocar, foi aí que inventou um ritmo
diferente, em que a viola batia cruzado com o violão, numa mistura de
recorte do catira lento com o recortado mineiro mais expressivo.
O pagode foi criado por Tião Carreiro na rádio cultura de Maringá/PR;
Tião começou a bater com sua viola e conseguiu fazer a junção da viola
com o violão na mesma gravação.
Chegando em São Paulo, tocou a fita para o Lourival dos Santos –
consagrado compositor sertanejo e Teddy Vieira e estes ao ouvi-la ,
comentaram, parece um pagode – pagode em Minas Gerais era baile, e
estava batizado o novo ritmo, e Tião Carreiro tornou-se “O Rei do
Pagode”.
O primeiro pagode a ser gravado foi “Pagode em Brasília."(e não Pagode como havia constado).
Na cultura da música raiz , o Pagode sertanejo é hoje um dos ritmos
mais tradicionais, tendo projetado Tião Carreiro por seu toque marcante e
inconfundível , passando a enriquecer a lista dos ritmos regionais.
(biografia produzida por Hedinan victor de Oliveira e Alex Marli Dias
- filha de Tião Carreiro com a colaboração de Cléber Toffoli e Eliana
Arens ).
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