O Eminem
brasileiro
Desbocado, agressivo, mas
muito família. Esse é Chorão,
o líder do Charlie Brown Jr.
muito família. Esse é Chorão,
o líder do Charlie Brown Jr.
Sérgio Martins
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O rock brasileiro não anda muito bem das pernas, mas o grupo Charlie
Brown Jr. caiu no gosto da rapaziada, e está em ascensão. Em três meses nas
lojas, seu disco mais recente, Bocas Ordinárias, já vendeu mais de 150.000 unidades. Juntos, os cinco CDs da banda
venderam cerca de 1,5 milhão de cópias. Uma ótima marca. No estilo de rock
acelerado e barulhento que fazem, os cinco integrantes do Charlie Brown Jr.
podem ser considerados músicos acima da média. Mas é o vocalista Alexandre
Magno Abrão, o Chorão, de 32 anos, quem mais chama a atenção. Adepto do visual
largadão da tribo dos skatistas, desbocado e até mesmo agressivo, ele é cheio
de, hum..., atitude. No momento, ninguém encarna como ele o personagem do
rebelde ou, mais ainda, do "revoltado". Chorão é o Eminem brasileiro.
A comparação com o rapper americano não é absurda. Ambos são garotos
brancos saídos da classe média baixa. Ambos têm histórias familiares
conturbadas. Ambos exibem uma dose considerável de raiva em suas aparições
públicas. É preciso, no entanto, manter as proporções. Eminem faz sucesso com
letras quase psicóticas, nas quais insulta a própria mãe, incita o ódio contra
homossexuais e ataca, nos termos mais chulos, seus desafetos no mundinho pop.
Tempos atrás, jogou o carro contra a ex-mulher, com quem vive às turras no
tribunal. Chorão gosta de ridicularizar pagodeiros românticos e faz letras
cheias de palavrões e invectivas contra mauricinhos. Em Papo Reto,
primeiro sucesso do novo CD, conta como roubou a namorada de um
"otário" (e essa é a palavra mais suave usada para descrever o
sujeito). Mas ele nunca atingiu a mesma virulência do rapper americano.
Bravateia muito, sem chegar ao ponto de romper tabus. Nos bastidores, Chorão
vira e mexe se envolve em bate-bocas com músicos, executivos de gravadora e
jornalistas. Depois de armar as maiores confusões, costuma cair nas lágrimas. É
isso mesmo: ele ganhou o apelido de Chorão na adolescência porque faz jorrar
cataratas de lágrimas sempre que fica em apuros. "Ele grita, esperneia,
chuta a cadeira. Dias depois, volta chorando e pede desculpas", diz um
executivo que trabalhou com o roqueiro. Muita gente o perdoa. Mas há músicos
que dizem que jamais voltarão a trabalhar com ele.
Nascido em São Paulo, Chorão mudou-se no final da infância para Santos.
Ali se encantou com o skate, esporte pelo qual disputou campeonatos nacionais
(nos braços ele traz tatuadas as frases "Marginal Alado" e
"Skate Por Toda Vida"). Ele abandonou a escola na 7ª série. Pouco
depois, seus pais se separaram e Chorão se tornou um adolescente encrenqueiro.
Arrumava briga com quem o olhasse torto e uma vez machucou seriamente um
colega, acertando-o com o skate. Um de seus amigos mais próximos naquele
período foi morto pela polícia. O próprio Chorão foi detido algumas vezes
"para averiguação". Sua relação com o pai sempre foi complicada.
"Ele era pescador, queria um futuro melhor para a gente. Ficou maluco
quando eu larguei os estudos", diz Chorão. Os dois só reataram laços
quando o pai ficou doente e Chorão, já famoso à frente do Charlie Brown Jr.,
resolveu bancar seu tratamento. "Ele morreu nos meus braços. Sinto muita
pena de não ter me reaproximado dele antes", lamenta. Pode-se dizer que,
hoje, Chorão é um roqueiro bem família. Mantém um apartamento para a mãe e para
a irmã, e sustenta um meio-irmão. É casado há sete anos com a estilista
Graziela Gonçalves, a quem chama de Grazon. De um primeiro casamento, tem o
filho Alexandre, de 12 anos. "Sou zeloso. Confiro as notas para ver se ele
vai bem na escola", diz.
Chorão sabe o valor de mercado de sua figura rebelde. Neste ano,
pretende lapidá-la ainda mais fazendo um filme "para a galera". O
roteiro, a trilha sonora e o papel principal ficarão a seu cargo. Ele também
quer se arriscar no exterior. Bocas Ordinárias já foi lançado em
Portugal. E o Charlie Brown Jr. está em contato com um produtor americano, para
lançar nos Estados Unidos um disco com versões em inglês dos sucessos da banda.
"Seria bobagem tentar disputar mercado com os grupos americanos, mas
podemos nos dar bem se mirarmos no público latino. Vou cantar num inglês bem
tosco", anuncia ele, como se houvesse outra possibilidade.
"Eu nem saio muito na rua, pra não dar
mau exemplo."
"Eu não odeio os sambistas. Odeio
apenas aqueles pagodeiros que cantam músicas de chifrudo e usam calças
levantadas até a barriga."
"Respeite o seu pai, respeite a sua
mãe pelo arroz e feijão que eles dão para você todos os dias. Eu tinha
carrão, camisa cara, relógio da hora, mas não conseguia dizer 'eu te amo'
para o meu pai."
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