Romildo de Souza sofreu um derrame e foi levado para o Hospital
Rocha Faria, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde ficou
internado por dois dias, vindo a falecer em 9 de julho do ano passado.
Até agora, por mais incrível que isso possa parecer, seu corpo continua
no necrotério da unidade. É isso mesmo! Há oito meses a família tenta
enterrar o corpo de Romildo, sem sucesso, tudo em razão da
omissão, burocracia e descaso que cercam a prestação de serviços
públicos ao cidadão, principalmente quando ele não vem das classes mais
abastadas. Se for negro, então, tudo fica mais difícil.
Eles explicam que um atestado de óbito chegou a ser emitido, mas não foi aceito pela funerária.
- O hospital
liberou a declaração de óbito. Mesmo assim, não foi possível confirmar o
sepultamento, pois não havia um documento com foto - explicou Roberto de Souza, irmão do rapaz.
Em julho do ano
passado, com base em exames feitos nas impressões digitais, peritos
emitiram um laudo comprovando a identidade de Romildo. No dia 11
de agosto, a justiça fluminense autorizou o enterro, que deveria ser
feito em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. No entanto, vinte
dias depois, a Defensoria Pública enviou um novo documento ao
Judiciário, informando que a família queria que o enterro fosse
realizado no cemitério Vila Rosali. Nesse mesmo documento havia a
informação de que Romildo tinha sido enterrado no cemitério Santa Rosali.
- Saiu alvará, voltou alvará, erraram o nome do cemitério - lamentou o irmão.
A decisão da justiça, pasmem, só veio cinco meses depois, em 24 de janeiro, mas com um outro equívoco: o documento dizia que Romildo já havia sido enterrado. Para aumentar a dor da família, a mãe de Romildo morreu no mês passado, vítima de um derrame cerebral.
- Saudade... Ela
não conseguiu ver o sepultamento que ela tanto cobrava. Me senti
impotente. É doloroso e difícil. Muito difícil - desabafou Roberto, emocionado.
Procurada pela
imprensa, a Defensoria Pública carioca informa que só pode se pronunciar
sobre o assunto quando tiver acesso ao processo, que está na Vara de
Registros Públicos. A seu turno, o Tribunal de Justiça diz que a juíza
que está cuidando do caso, Lindalva Soares Silva, está de férias e
que o tribunal só vai se manifestar ao ter acesso ao conteúdo da
decisão dela. O Hospital Rocha Faria mantém sua posição: o corpo não
pode ser liberado sem identificação. Uma vergonha!
Se o Brasil fosse
um país sério, os responsáveis por tamanho descaso e desrespeito ao ser
humano já estariam na cadeia. Duvido que algo parecido aconteceria com o
parente de um figurão político ou do próprio Judiciário. Não dá para
acreditar que o Tribunal de Justiça, por exemplo, só possa se manifestar
sobre o assunto quando tiver acesso à decisão da juíza encarregada do
processo, que está de férias. Ela não tem substituto? Quando ela saí de
férias ou tem uma dor de barriga, a Vara de Registros Públicos que ela
comanda pára? O cartório não tem um funcionário capaz de localizar o
processo e o enviar a alguma autoridade que possa resolver o problema,
já que a meritíssima doutora Lindalva Soares está de férias? E os
salários pagos a essa gente? Afinal, quem pode socorrer o cidadão de
bem em uma hora como essa? Onde estão as famosas "comissões de defesa
das minorias oprimidas"? Será que elas só existem para os bandidos? Onde
se enfiou o presidente do Tribunal de Justiça do Rio? Cadê o governador
dessa cidade que chamam de "maravilhosa"? Alguém me diga, por favor,
que país é esse?
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