MACONHA
Duas convicções em relação à maconha vêm caindo por terra nos
últimos 30 anos. A primeira é de que o abuso dessa droga não
acontecia como um problema primário. A segunda é de que ela
não provocaria uma verdadeira síndrome de dependência.
Desde os anos 80 está comprovada a síndrome de abstinência
da maconha, com sintomas que se iniciam nas primeiras 24
horas após a interrupção do uso, com sintomas de ansiedade,
irritabilidade, agitação, alterações do sono, diminuição do apetite,
pesadelos, dores musculares, taquicardia e cefaleia.
A necessidade de tratamento para pacientes com problemas
relacionados à maconha tem aumentado em todo o mundo.
Nos EUA, entre 1992 e1998, a porcentagem de admissões para
esses pacientes foi de 23%, aproximando-se das admissões por
problemas relacionados à cocaína, que ficou em 23%.
O manejo medicamentoso para usuários de maconha permanece
focado nos estados de intoxicação aguda, nas psicoses induzidas
por maconha (psicose cannabínica) e na busca por comorbidades
psiquiátricas. São boas opções para controle de depressão e
ansiedade o uso da medicação antidepressiva FLUOXETINA
(Prozac, Daforin, Fluxene) e do ansiolítico BUSPIRONA
(Ansitec, Buspar), ambos com estudos comparativos mostrando
diminuição do consumo nos grupos tratados em relação aos
grupos que receberam placebo.
COCAÍNA/CRACK
Apesar da intensa pesquisa dos últimos anos, ainda não há
medicamento algum aprovado para o tratamento da cocaína/crack.
Não há sequer uma farmacoterapia sólida com mecanismo de
ação eficaz para tratar os usuários dessa substância para tratar os
usuários dessa substância.
As melhores evidências que temos apoiam-se nas seguintes
medicações:
TOPIRAMATO (Amato, Topamax): Sempre em doses
a partir de 200mg, age na modulação do sistema de
recompensa cerebral. Há estudos que evidenciam uma
redução estatisticamente significativa na intensidade do
craving (fissura) em 25% da amostra.
MODAFINIL (Provigil, Stavigile): Um antagonista dos
canais de cálcio inicialmente aprovado para tratamento da
narcolepsia, que em doses entre 200 a 400mg tem obtido
bons resultados no auxílio à manutenção da abstinência,
embora careça de mais estudos.
Existem tentativas de desenvolvimento de uma VACINA
ANTICOCAÍNA em humanos, que agiria produzindo anticorpos
da droga, sequestrando a mesma da corrente sanguínea e
impedindo ou retardando sua entrada no cérebro. Com resultados
promissores em ratos, mas ainda permanece uma dúvida entre
humanos, uma vez que é incapaz de produzir anticorpos em 30%
dos pacientes vacinados, e os que produzem são de curta duração.
OPIÓIDES
Duas questões são importantes no Brasil: A primeira é que talvez
ainda não tenhamos uma epidemia de heroína no Brasil devido
ao alto custo dessa substância, mas nunca é demais lembrar que
países como a Colômbia já entraram na produção de heroína
(opióide semissintético) e, portanto, a facilidade de acesso no
nosso país aumenta o que é evidenciado pelo acréscimo da
quantidade de apreensões dessa substância feitas pela Polícia
Federal desde 2007.
A segunda é a preocupação com a chamada “dependência
branca”, ou seja, o número de médicos dependentes dessa
substância, em função da facilidade de acesso. Estudos mostram
que em um grupo de médicos de diversas especialidades
envolvidos em um tratamento para dependência química,
22% eram dependentes de opióides, em especial os sintéticos
(meperidina, fentanil,...).
A METADONA (Metadon), um opióide sintético que bloqueia
os efeitos da heroína durante 24 horas e elimina os sintomas
de abstinência, tem uma historia de sucessos provados (com
eficácia e sem perigo) quando se prescreve em concentrações
suficientemente elevadas para as pessoas dependentes de heroína.
Outros produtos aprovados são a NALOXONA (Narcan) e a
NALTREXONA (Revia), que também bloqueiam os efeitos
da morfina, heroína e outros opióides. Como antagonistas, são
especialmente úteis como antídotos. A Naltrexona tem efeitos
em longo prazo que vão de 1 a 3 dias, dependendo da dose. A
Naloxona pode ser usada em situações de intoxicação aguda.
BENZODIAZEPÍNICOS
São eles sem dúvida as drogas psicotrópicas que recebem o maior
número de prescrições. Os pacientes em uso crônico devem ser
devidamente monitorados, e especial atenção deve ser dada aos
dependentes de álcool e outras drogas, em razão dos riscos da
interação dessas substâncias, bem como o risco de desenvolver
a dependência pela substância prescrita. O tratamento pode
contemplar:
A retirada gradual utilizando a própria substância, retirando
25% da dose por semana.
A retirada gradual com substituição de um benzodiazepínico
por outro de meia vida mais longa.
Acrescentar a um dos processos de retirada gradual
escolhido o uso de VALPROATO (Depakene), com o
objetivo de reduzir os sintomas de abstinência e apoiar na
prevenção de recaída.
Os sintomas mais comumente presentes na Síndrome de
Abstinência por Benzodiazepínicos são:
• FÍSICOS: sudorese, palpitações, sudorese, perda de
apetite, náuseas, vômitos, dores musculares.
• PSÌQUICOS: ansiedade, agitação, insônia, perda da
memória e da concentração, irritabilidade, intolerância ás
luzes e ruídos fortes e sintomas depressivos.
ANFETAMINAS/METANFETAMINAS
Assim como no caso da cocaína, pouco ainda se faz do ponto
de vista farmacoterápico na dependência de anfetaminas e
metanfetaminas. O antipsicótico ARIPIPRAZOL (Abilify) e o
estimulante do Sistema Nervoso Central METILFENIDATO
(Ritalina) têm se apresentado como uma promessa interessante no
tratamento.
O TRABALHO DO “CONSELHEIRO” NA ADESÃO AO
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO.
ONDE PODEMOS AJUDAR?
O Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos (TRDQ),
ou “Conselheiro”, tem um tempo de convivência com o paciente
muitas vezes maior que o médico que prescreve os fármacos. No
mínimo, em regime de tratamento ambulatorial, essa convivência
é semanal, e pode ser muito mais intensa se o TRDQ estiver
atuando como Acompanhante Terapêutico (AT) do dependente
químico. Portanto suas informações são importantes e podem
ajudar ao médico a identificar sinais de abstinência, uso irregular
ou efeitos adversos e indesejáveis das medicações prescritas.
Como terapeuta, o TRDQ desenvolve sua capacidade de ouvir
e cuidar, e, portanto, está apto a lidar com a ambivalência do
paciente e desenvolver seu interesse pelo uso da medicação.
A não adesão ao tratamento medicamentoso é secundária a um
conjunto de crenças disfuncionais em relação a esse tipo de
tratamento, que geram pensamentos automáticos, a saber:
Os benefícios dos medicamentos são pequenos;
Os efeitos colaterais são insuportáveis;
As medicações não são necessárias;
As medicações são danosas ou fazem parte de uma
conspiração;
As medicações podem mudar a personalidade de quem as
usa;
As medicações podem tornar o paciente dependente;
O custo financeiro não compensa.
O TRDQ pode acessar esses pensamentos através de perguntas,
como:
“Você tem pensado em parar com a medicação?”
“Você acha que a medicação está lhe prejudicando?”
“O que significa para você ter que usar essas medicações?”
SUGESTÕES
1. Confirme com o paciente em todas as sessões se ele tem
usado sua medicação adequadamente.
2. Procure saber sobre a experiência prévia do paciente
com tratamentos medicamentosos.
3. Mantenha-o motivado durante todo o tratamento.
4. Auxilie o paciente a identificar as razões pelas quais não
consegue aderir à medicação e busque soluções práticas.
5. Faça o paciente perceber que ele também é um agente
importante do seu tratamento.
S
6. EMPRE DIVIDA ESSAS INFORMAÇÔES COM
O MÈDICO ASSISTENTE DO SEU PACIENTE OU
COM O MÉDICO RESPONSÀVEL PELA EQUIPE
ONDE VOCÊ ATUA.
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