Tratamentos Farmacológicos para
Dependência Química
Alessandro Alves
Um dos maiores desafios enfrentados pelos profissionais da
área de saúde é a dificuldade de lidar com a crescente oferta
de informação oferecida por artigos científicos e encontrar
respostas efetivas para uma tomada de decisões. Quando se
fala em farmacoterapia da dependência química, o panorama
não é diferente. O profissional deverá estar atento ao fato de
que em sua esmagadora maioria as pesquisas em relação ao
uso de substâncias psicoativas como medicamentos são feitos
pela indústria farmacêutica e, por mais éticos e humanitários
que sejam seus objetivos, existem grandes chances dos novos
produtos serem anunciados como mais promissores que os já
disponíveis no mercado.
O profissional que atendo ao dependente químico deverá também
lidar com inúmeras outras questões para medicar seu paciente, e
todos esses fatores devem ser considerados, a saber:
Usuários de múltiplas substâncias psicoativas;
Comorbidades psiquiátricas;
Custos da medicação;
Indisponibilidade de medicamentos na rede pública;
Interações medicamentosas;
Patologias clínicas associadas à DQ;
Carência de suporte social/familiar adequado;
• Incertezas e informações “popularescas”;
Por quê e para quê medicar?
1) Tratar as comorbidades:
Dados do Epidemiologic Catchment Área Study (ECA), um
estudo desenvolvido por equipes de pesquisa independentes em
cinco universidades (Yale, John Hopkins, Washington, Duke e
Califórnia) demonstraram que cerca de metade dos indivíduos
diagnosticados com dependência de álcool e outras substâncias
pelos critérios do DSM-IV apresentam um diagnóstico
psiquiátrico adicional: por exemplo, 26% apresentam transtornos
do humor, 28% transtorno de ansiedade, 18% transtornos da
personalidade antissocial e 7% esquizofrenia. A prevalência
de depressão maior entre dependentes químicos varia de 30 a
50%. Adultos com TDAH apresentam prevalência na vida muito
maior para transtornos do uso de substâncias: aproximadamente
33% dos adultos com TDAH apresentam antecedentes de
abuso ou dependência de álcool e 20% deles história de abuso
ou dependência de outras substâncias. Abuso de uma ou mais
substâncias foram relatados por 76% de pacientes com transtorno
da personalidade borderline. Em um estudo realizado na
Universidade de São Paulo, 37,5% das pacientes que procuravam
o ambulatório de transtornos alimentares faziam abuso de
anfetaminas, e o mesmo percentual foi encontrado para aquelas
que preenchiam critérios do DSM-IV para depressão maior. Isso
não pode ser ignorado por nenhum profissional que se propõe
a tratar Dependência Química, pois é comum que o indivíduo
encontre no uso das drogas psicoativas o alívio para seus sintomas
relacionados ao seu outro transtorno de saúde mental.
2) Atenuar/prevenir os efeitos da Síndrome de Abstinência:
Está bem fundamentado que no caso de determinadas drogas o
número de crises de abstinência piora o prognóstico. No caso do
álcool, por exemplo, a medicação correta previne a incidência
de delirium tremens, Com a nicotina, o temor dos efeitos
desagradáveis da abstinência pode ser um fator de complicação
para iniciar o tratamento. Isso pode ocorrer também com outras
drogas. Já na Síndrome de Abstinência Protraída, a medicação
serve para diminuir o craving (fissura) e procurar garantir a
manutenção da sobriedade até que possa haver um retorno à
normalidade fisiológica.
3) Facilitar o engajamento nas intervenções psicossociais:
A farmacoterapia tem lugar importante no tratamento da
dependência química, mas não é e não deverá ser a única
abordagem; e sim deverá agir complementando outras
intervenções psicossociais que buscam melhorar todos os
domínios da vida do paciente. Essas intervenções, como terapia
individual ou de grupo, bem como grupos de mútua ajuda, só são
possíveis se o paciente estiver minimamente equilibrado para
poder frequentar esses espaços e absorver seus conteúdos.
ÁLCOOL
Durante muitos anos as intervenções farmacoterápicas para o
alcoolismo ficaram restritas ao período de desintoxicação e ao
tratamento dos sinais e sintomas da Síndrome de Abstinência
Alcóolica, em caráter muitas vezes emergencial. Lembramos
que nesse estudo levaremos em consideração o tratamento da
Síndrome da Dependência do Álcool, momento em que o Técnico
de Reabilitação em dependência Química (ou Conselheiro) se fará
mais presente.
Apresentaremos as substâncias liberadas pelo FDA para esse
tratamento:
DISSULFIRAM (Antietanol, Sarcotom): Medicação
de propriedade aversiva que causa o chamado “efeito
antabuse”, caracterizado por rubor facial, cefaleia (dor de
cabeça), taquipneia (aumento da frequência respiratória),
precordialgia (dor no peito), náuseas, vômitos e sudorese.
Deve ser utilizado somente com o conhecimento do
paciente.
NALTREXONA (Revia, Uninaltrex): É um antagonista
opióide. Tem como objetivo inibir o consumo de álcool
mediante o bloqueio pós-sináptico de determinados
receptores opióide nas vias mesolimbicas A grande
maioria dos estudos entre 1990 e 2006 mostra-se a favor
da Naltrexona para diminuir o ato de beber pesadamente
e como coadjuvante das intervenções psicossociais na
prevenção de recaídas.
ACAMPROSATO (Campral): Inibidor da atividade
excitatória glutamatérgica. Reduz os efeitos aversivos da
retirada do álcool e também reduz o reforço positivo ao uso
de etanol.
Atualmente o uso da METADOXINA (Metadoxil) tem sido
muito difundido a fim de reduzir a alcoolemia e evitar o tempo de
exposição dos tecidos aos efeitos deletérios do álcool.
NICOTINA
A relação observada entre a dependência de nicotina e o
surgimento de sintomas depressivos durante a síndrome de
abstinência da droga autoriza o uso de medicação antidepressiva
como uma farmacoterapia eficaz do tabagismo. Dentre todos
os antidepressivos já avaliados, os dois abaixo foram os que
mostraram melhores resultados.
BUPROPIONA (Bup, Zyban, Wellbutrin, Zetron): Atua
na inibição da dopamina e noradrenalina. Não tem efeitos
colaterais como disfunção sexual, sonolência e ganho de
peso.
NORTRIPTILINA (Pamelor): Dentre os antidepressivos
tricíclicos existentes, é o que possui menor índice de efeitos
colaterais, com bom índice de aceitação entre os idosos.
TRATAMENTOS COM NICOTINA: Podem vir
em forma de adesivos, pastilhas (Niquitin) ou gomas
(Nicorette). São particularmente mais eficazes quando
associados ao tratamento com Bupropiona.
VARENICLINA (Champix): É um agonista parcial dos
receptores nicotínicos cerebrais que auxiliam na diminuição
tanto da fissura quanto dos sinais e sintomas da síndrome de
abstinência. Muito utilizado e considerado primeira escolha
até 2009, quando foram publicados estudos afirmando que
desde a sua aprovação, em 2006, a vareniclina foi associada
a 98 suicídios e 188 tentativas de suicídio.
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